[2004] Everything I don’t say to you

[ =Tudo o que eu não te falo ]

Este trabalho joga com imagens e movimentos que se antecipam, sem mostrar um sentido estrito, procurando despertar as sensações e a memória em cada espectador. Preencher um silêncio com um pensamento que o espectador produz com sua memória, sua história.

Beckett diz: 

uma obra de arte não é sobre algo, ela é algo; ela é uma entidade orgânica e não uma armadura à qual aderiu um conjunto de ideias”

Tem a ver com o ir e vir, com o percorrer de um caminho para frente e para trás, levando muita carga ou peso na partida, e que depois vai se depositando na estrada a se construir, e que é também uma construção de pensamentos, de conceitos que vamos acomodando em nosso corpo à medida em que aprendemos, em que vivenciamos o conhecimento.

Uma experiência, um sentimento, uma memória em cada livro, que pode ser um traço para ir ou voltar … porque o livro é uma palavra que permanece como um traço, é a imagem trazida à existência no palco ….

Entrando e saindo do caminho, subindo e descendo, relendo o que mais me tocou, as palavras que entraram em meu corpo.

Ao sair deste caminho, os movimentos vêm de gestos, pausas, suspensões de tempos, rodeados em círculos para poder sair e entrar mais uma vez. 

Repetir movimentos como forma de ativar algo de maneiras diferentes, mas sendo a mesma pessoa. Repetição que se transforma em movimento.

Aí juntos estão os objetos como referência ao se chegar em um lugar, ao se contar algo, e ao deixar algo naquele espaço no qual habitei, naquele tempo em que fiquei, nas imagens que deixei …

Também existe a palavra e a poesia, mas a poesia no teatro ou na dança é muito diferente da poesia literária. Silêncios, pausas e acelerações geram outros planos, como a luz, a cenografia. O uso de objetos muitas vezes gera poesia, mas essa poesia tem uma ação, um impacto físico no espaço que é muito diferente do literário.

De Octavio Paz:  

… no meio do poema vem-me um desamparo, o que se diz não se diz e o que se não se diz é indizível …”

O uso de objetos tem a ideia de brincar com as palavras que ficam, e que podem ser relidas, porém sempre de uma maneira nova. Como quando se olha uma foto, uma imagem, mas se está em um outro momento, passando de um livro para outro. Depois arrumamos os livros em seus lugares e voltamos a realoca-los num tempo diferente do tempo em que nos encontramos agora.